terça-feira, 22 de março de 2016
Lúcio Cardoso, "Como no oceano, ao bar aportam ..."
Como no oceano, ao bar aportam entre o óleo e o sal, todos os detritos. O que mais gosto é esta luz de cais. É o que se lê nos olhos dos que chegam.
Imaginei uma carta: meu amor. Depois pensei que era tarde demais. Mas ter errado, sempre, nunca foi por imaginar dessas coisas? O apetite pressupõe uma audácia que, ai de mim, não existiu nem agora nem nunca.
Não poderei dizer nunca que passei a via em branca nuvem. Tudo me veio às mãos. Mas com que impaciência destruí tudo. O inventado sempre me pareceu muito melhor.
Não há vivido, há esgotado. Não vivi, esgotei-me. Nascido doente, sou um convalescente de mim mesmo.
Que Deus não me permita nunca a cura.
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