Camões, nessas terras duras
De cafres, mouros, gentios,
Quantos mares, quantos rios,
Quantas terríveis lonjuras
Até as faces que são tuas.
Quantos meses, ou mais que eles,
Entre uma carta e outra carta,
Mundo vão que nos aparta,
Espumas que salgam, reles,
Nossas mãos só nisso imbeles.
A essência da solidão
Caminha em Goa, nas ruas,
Ao pensar que as mesmas luas
Banham de argênteo clarão
Olhos que cá e lá estão.
Mestre, não sei se é consolo,
Todos nós marchamos sós,
Mas é em nós que a tua voz
Vibra, não no coevo tolo
Que de Olisipo é hoje o solo.
De Ceuta, de Índia ou Macau
Nunca estiveste tão perto,
Tão sobre o salso deserto,
Sobre o torpe, sobre o mau,
Sobre o inconfiável vau
Quanto agora, em nosso peito,
Nosso pai, irmão e amigo,
Finda a Sorte, ido o Perigo,
Na Santa Cidade, eleito,
Para onde vai nosso preito.
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