domingo, 9 de fevereiro de 2014
Fiama Hasse Pais Brandão, "Trevos bravos"
Durante alguns anos amei os trevos
com desespero e júbilo e veemência.
E no ano passado num súbito momento
o jardineiro cortou-os ao longo do muro
como de o serem daninhos fosse o opróbio.
Eu amava-os, como testemunham as
orações feitas contra o muro, de joelhos,
na adolescência sem palavras. Olhar só
a corola provisória, o caule tenro,
a repetição, ano depois de ano,
do movimento do abrir das pétalas.
E aquele amarelo tão ridente
sacudido por si próprio ou pelo vento
e os sons que estoiravam, em redor,
dos insectos que enchiam a minha boca.
Só por eles eu emitia o ruído
de estar ali também eu viva.
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