terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Ruy Espinheira Filho
"Soneto do quintal"
para Matilde e Mário, em Monte Gordo,
março de 91.
Ao recordar a moça, eu me comparo
ao cão que vejo a interrogar a brisa.
O que é mal comparar: bem mais precisa
é a mensagem de odores que o faro
decifra. E então medito sobre o claro
ser desse cão, e invejo essa precisa
vocação de existir. E ausculto a brisa
e nada nela encontro. Nada. E paro
de lembrar e pensar. Há mais profícuas
ocupações. Exemplo: só olhando
estar. Cão. Nuvens. Flor. E (ei-lo dormindo)
um gato. E essas formigas - três - conspícuas,
vestidas a rigor, deliberando
em torno de uma flor de tamarindo.
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