sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Paul Verlaine
"As mãos que foram minhas..."
As mãos que foram minhas, mãos
Tão bonitas, mãos tão pequenas,
Após tanto equívoco e penas,
Tantos episódios pagãos,
Após os exílios medonhos,
Ódios, murmurações, torpezas,
Senhoris mais do que as princesas
As caras mãos abrem-me os sonhos.
Mãos no meu sono e na minh'alma,
Pudera eu, Ó mãos celestes,
Adivinhar o que dissestes
A est'alma sem pouso nem calma!
Mente-me acaso a visão casta
De espiritual afinidade,
De maternal cumplicidade
E de afeição estreita e vasta?
Caro remorso, dor tão boa,
Sonhos benditos, mãos amadas,
Oh essas mãos, mãos consagradas,
Fazei o gesto que perdoa!
Tradução de Manuel Bandeira.
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