quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Alexei Bueno, "Suma"
Tudo é mentira, já por ser do mundo,
mentem os livros, mentem os espelhos
Que não nos mostram quanto somos velhos
Nem quanta pedra nos nossos joelhos
Gravou paisagens de um rubor profundo.
Tudo é mentir, todas as histórias,
todas as páginas encadernadas
Com as suas tramas, suas madrugadas,
tais como as nossas, lidas e deixadas
Entre as estantes às traças inglórias.
Um tiro! A morte! Temos que morrer,
Dói-nos não sermos o que nós urdimos,
Doem-nos as dores que vimos e ouvimos,
As dores de antes, e as que pressentimos,
E o tempo chove a raiva de esquecer.
Tudo é mentira, firme-se o decreto!
E após o queimem pois mente também
E queimem isto e aquilo, o mal e o bem,
E a mim não poupem, pra que mais ninguém
Minta escrevendo outro poema abjeto.
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