sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Carlos Drummond de Andrade
"Mãos dadas"
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, à paisagem vista da janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicídio.
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes.
A vida presente.
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