terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Ferreira Gullar, "Arte poética"
Não quero morrer não quero
apodrecer no poema
que o cadáver de minhas tardes
não venha a feder em tua manhã feliz
e o lume
que tua boca acenda acaso das palavras
- ainda que nascido da morte -
some-se
aos outros fogos do dia
aos barulhos da casa e da avenida
no presente veloz
Nada que se pareça
a pássaro empalhado múmia
de flor
dentro do livro
e o que da noite volte
volte em chamas
ou em chagas
vertiginosamente como o jasmim
que num lampejo só
ilumina a cidade inteira.
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