sexta-feira, 22 de março de 2013
Jorge Luis Borges, "Para uma versão do i ching"
Nosso futuro é tão irrevogável
Quanto o rígido ontem, Não há nada
Que não seja uma letra calada
Da eterna escritura indecifrável
Cujo livro é o tempo. Quem se demora
Longe de casa já voltou. A vida
É a senda futura e percorrida.
Nada nos diz adeus. Nada vai embora.
Não te rendas. A masmorra é escura,
A firme trama é de incessante ferro,
Porém, em algum canto de teu encerro*
Pode haver um descuido, a rachadura.
O caminho é fatal como a seta,
Mas Deus está à espreita entre a greta.
*Encerro - claustro, clausura.
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