"A cabra-cega"
Deixada neste mundo, tenteio* seus contornos
sem lenço que me cegue, como naquele jogo
que em menina aprendi. Torpe, apalpo palavras
e reconstruo gestos em busca de um estímulo
que me mantenha viva,
desde que surge o sol até ao seu ocaso.
Peço luz sem saber que não me é necessária
pois seus raios não chegam onde a sombra reside.
Peço pão e encontro pedras para a boca.
De uma esquina à outra deste corpo me invade
a amargura com crescente viscosidade morna.
Se eu encontrasse um vale, erguia aí a tenda.
Tradução de José Bento
* Tenteio - do verbo tentear:calcular, avaliar, sondar, examinar.
Eu não sei se é todo o sol ou toda a poesia, mas, achei essa senhora de olhos marcantes, lindíssima. :)
ResponderExcluirTambém achei, K.
ExcluirPoucos conseguem levar a beleza à própria velhice (a vida é áspera). Não é mais a beleza evidente da juventude, é uma outra, que raros conseguem enxergar.
JR.
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