quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Jorge Luis Borges, "Soneto do vinho"


Em que reino, em que século, sob qual silenciosa
conjunção dos astros, em que secreto dia
jamais gravado no mármore, surgiu a valiosa
e singular ideia de inventar a alegria?
Com outonos de ouro a inventaram. O vinho
flui vermelho no decorrer das gerações
como o rio do tempo e em seu árduo caminho
dá-nos sua música, seu fogo e seus leões.
Na noite radiante ou na jornada adversa
exalta a alegria ou mitiga o espanto
e o ditirambo* novo que neste dia lhe canto
outrora foi cantado pelo árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria história
como se ela já fosse cinza na memória.


*Ditirambo - subst.: Poesia lírica que exprime entusiasmo ou delírio.

Tradução amadora minha.

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