sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Manoel Carlos, "Sexto"
Tenho corpo pesado e alma breve.
Não me pus em silêncio dia algum.
Dos beijos que gravei não houve um
que desse à minha boca um gosto leve.
Riso não transformei em bem algum.
Sal do meu rosto a esforço não se deve.
E entre os filhos que urdi nenhum se atreve
a carregar na alma o meu debrum.
Que palhaço herdará o meu penacho
de cores desiguais e sem valia?
Sombra de coração em que me facho
é sopro de poeta e de embolia.
Que fique do que sou um verso apenas:
pequenos gestos e ambições pequenas.
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