domingo, 17 de agosto de 2014
Paulo Henriques Britto, "Também o mundo não cabe..."
Também o mundo não cabe
no espaço estreito entre as beiras
que lhe foram concedidas.
Todas as coisas extravasam as bordas.
(Daí a angústia tensa das poltronas.
o choro envergonhado das torneiras.)
Nem só você, poeta, se ressente
da mesquinhez dos demiurgos todos.
Também os deuses escrevem linhas tortas.
No entanto, há que tentar. Exemplo:
"A noite é um alforje negro".
Alforje, não. Talvez Alfanje?
Também não. Sobra sempre. Isso cansa.
E a noite, definitivamente,
não é mais uma criança.
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