segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Eduardo Guimarães , "De Profundis Clamavi"


Desse profundo horror, de esplêndida memória,
ouve, Senhor, o brado unânime e maldito
que aos céus, vibrando, sobe! Ouve o sinistro grito
que é toda a angústia humana e toda a humana glória!

Ouve o que diz a boca exangue e merencória,
de amor gemendo! E o lábio ardente do precito*!
que em vão interrogou a sombra do infinito.
E o que sorveu, calado, a lágrima ilusória!

Ouve Deus de Sinai que tens o raio ao seio!
Nós clamamos a ti pelos perdões supremos
pela suprema paz ao nosso eterno anseio!

E queremos saber por que nos torturamos!
E clamamos a ti do Éden em que sofremos!
E clamamos a ti do Inferno em que gozamos!


* Precito: adj. Religião. O que, de acordo com determinada doutrina, está previamente condenado.
Que foi alvo de maldição; amaldiçoado, condenado, maldito, repudiado.

                                       

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