terça-feira, 18 de agosto de 2015
Teixeira de Pascoaes, "A dor e o medo"
Quando sozinho, noite morta, rezo,
E a minha voz dos medos me defende,
E a tudo, à terra e ao céu, me sinto preso.
Vejo que a dor é a força que nos prende.
Enlouquecido de alma, canto e rezo.
Aflige-me o silêncio. Quem no entende?
A sombra me sufoca. É negro peso;
E, em fumo, do meu corpo se desprende.
Ó noite triste, noite que apavora,
Golpeada de estrelas, a sorrir...
Desnorteado, o vento clama e chora !
E quem sou eu? Quem sou? Na noite escura.
— O medo à morte certa que há-de vir
E a dor de ser humana criatura.
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