domingo, 21 de fevereiro de 2016
Lúcio Cardoso, "Há um momento onde um silêncio enorme desce"
Há um momento onde um silêncio enorme desce
e as ilhas cativas submergem - o oceano respira
na lenta convulsão de um mundo em transe,
face a face com o céu que a noite ordena.
Algas, faúlhas, frêmitos de luz vagueiam
em torno a essas colunas que se arqueiam
sob a imensa abóboda das águas
- medonho céu onde as anêmonas rutilam.
Há um momento de pausa - um iris passa,
glauco, solene, em meio à solidão profunda.
Outros monstros sucedem, olhos que fitam,
astros, dedos de luz, corpos que se desenlaçam,
verdes sereias montando o dorso dos corais,
torres, sinos, mastros, bandeiras que estremecem,
uma cidade inteira que viaja
na insondável penumbra dos abismos...
Há um momento onde qualquer coisa se abre.
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